Amanda Staveley, empresária britânica com fortes ligações ao Médio Oriente, que desempenhou papel determinante na aquisição do Newcastle por parte do consórcio formado por três empresas - Fundo de Investimento Público (PIF) do reino da Arábia Saudita, PCP Capital Partners (que pertence a Staveley) e a RB Sports & Media (empresa do grupo Reuben Brothers) - tornando-se co-proprietária do clube do nordeste de Inglaterra, em declarações na Financial Times Business of Football Summit, saiu em defesa do oligarca russo Roman Abramovich.
Segundo a empresária, o dono do Chelsea (que já recebeu várias propostas para aquisição do clube a rondar os dois mil milhões de euros), que colocou o emblema londrino à venda depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia, o que gerou sanções por parte de todo o mundo ocidental, «foi tratado de forma injusta.»
Amanda Staveley foi mais longe e, diante da plateia, desvalorizou as questões que originaram a decisão de Roman Abramovich. «Vamos ter sempre questões geopolíticas. Este mundo nunca deixará de ter problemas, sei que é muito difícil e estou muito triste pelo facto de alguém [Roman Abramovich] ver ser-lhe retirado um clube de futebol [Chelsea] por causa de um relacionamento que possa ter com alguém [Vladimir Putin]. Não acho particularmente justo, para ser honesta», lamentou a inglesa de 48 anos, casada com Mehrdad Ghodoussi, agente financeiro britânico-iraniano.
A empresária, ciente das muitas críticas apontadas pelo negócio de aquisição do Newcastle com dinheiro do governo saudita, associado a um largo historial de desrespeito pelos direitos humanos, como ausência de liberdade religiosa e política e falta de direitos das mulheres (não há, por exemplo, uma idade mínima legal para o casamento), defendeu igualmente o país liderado pelo príncipe Mohammad bin Salman: «Também acho que temos de responsabilizar todos os nossos relacionamentos. E acho que também temos de nos lembrar como a Arábia Saudita é um país incrivelmente grande e importante e que eu amo. Eu amo os sauditas. São uma população jovem e vibrante e vi a Arábia Saudita mudar muito. Esses são os meus pensamentos, porque, realmente, conheci muitas pessoas e estou entusiasmada por...preferia que todos estivéssemos entusiasmados com o futebol em vez de estarmos envolvidos numa guerra.»
Após os comentários da milionária inglesa, a Amnistia Internacional, através do porta-voz Felix Jakens, reiterou: «[Os comentários de Amanda Staveley] não nos causam qualquer surpresa. Como temos vindo a dizer, nesta era em que existe uma agenda global de lavagem desportiva e do horror que está a acontecer na Ucrânia, a Premier League tem a responsabilidade moral, clara e imediata, de mudar as regras de propriedade, fortalecer os testes a proprietários e diretores e pôr fim ao facto de o futebol inglês de alto nível estar a ser usado como veículo de relações públicas para os cúmplices de graves violações dos direitos humanos.»
Na lista de atrocidades enunciadas pela Amnistia Internacional contra o governo da Arábia Saudita constam o assassinato, tortura e desmembramento do jornalista saudita Jamal Khashoggi ou a prisão do escritor Raif Badawi (condenado a sete anos) sob a acusação de ter «insultado o Islão» e condenação a mil chicotadas - das quais, na primeira sessão, a 9 de janeiro de 2015, foram infligidas 50, com a sessão seguinte de golpes de chicote sucessivamente adiada devido às condições de saúde do contestatário do regime saudita.
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