Era um dos futebolistas mais cobiçados da atualidade, depois de ter despontado no verdadeiro filão de promessas que é o Red Bull Salzburgo. Apesar do interesse de grandes clubes ingleses na sua contratação como, por exemplo, o Liverpool - também surgiram de Itália e de Espanha notícias da cobiça de Milan e Real Madrid -, foi o parente Leipzig a resgatá-lo da liga austríaca e a proporcionar-lhe o primeiro grande passo na carreira, a Bundesliga, muito provavelmente para que, a longo termo, se torne o sucessor do criativo sueco Emil Forsberg.
Dominik Szoboszlai vive há muito com a responsabilidade (e a pressão) de ser o novo Ferenc Puskás, que é o mesmo que dizer que os húngaros esperam que se torne não só a maior referência de um futebol magiar, que chegou a ameaçar dominar o mundo na década de 50, como também o seu elemento aglutinador. Ainda com 20 anos, fez a jogada, em slalom a partir do seu meio-campo, e o golo decisivo consequente que colocaram a Hungria na fase final do Campeonato da Europa do próximo ano e só por isso os compatriotas têm de reconhecer que tem dado resposta às exigências.
No entanto, a dúvida subsiste. Poderá alguém já tão pressionado corresponder a expetativas tão elevadas? Será assim tão bom o prodígio húngaro, ao ponto de se tornar um jogador de classe mundial? Afinal, o nível da liga austríaca, não obstante o crescimento de outras equipas além do Salzburgo, está bem longe de poder ser comparada a qualquer uma das Big Five em termos de exigência. Mesmo a Bundesliga que, pela proximidade, clima, língua e até, com as devidas diferenças, estilo de jogo, poderá favorecer uma adaptação mais fácil poderá tornar-se um salto maior do que as pernas.
A conclusão mais óbvia a tirar, a partir do cruzamento de vários dados estatísticos disponíveis online, é que Szoboszlai está longe de ser um produto acabado. Não o poderia nunca ser, mas poderia estar mais completo do que realmente está. No entanto, também se percebe que o hype, sobretudo no que se refere às suas características mais distintivas como a técnica de remate, passe e cruzamento, e a capacidade atlética, é justificado. Há talento, precisa de trabalho.
O prodígio húngaro é um bombardeiro com um pé direito de excelência, que usa também para se associar com passe e visão de jogo aos companheiros mais avançados. Se a sua posição natural é a de número 10 - até certa altura, terá pensado que era mais um 8 -, embora no caso do Salzburgo e eventualmente do Leipzig passe por partir da esquerda para terrenos interiores, falta-lhe também trabalho sem bola para que possa estar mais perto da baliza contrária. As lacunas, todas afináveis – Julian Nagelsmann terá um papel muito importante na carreira do jogador –, estão sobretudo nos momentos em que não tem a bola nos pés, embora ainda assim pudesse melhor a capacidade de drible em progressão e, consequentemente, também a retenção da posse. Essencialmente para uma equipa como a alemã, que tem a transição ofensiva como uma das suas armas, é algo que lhe vai ser certamente exigido.
Sem bola, Szoboszlai tem, então, vários degraus a subir. A capacidade atlética, que lhe dá pulmão para 90 minutos, em conjunto com a agressividade natural que possui não têm sido usadas no momento certo, fazendo-o perder-se nos momentos de pressão. Também o desarme precisa de ser trabalhado, o que neste momento o torna muito ineficaz no processo defensivo. Se na Áustria, com o domínio do Salzburgo, nunca foi um verdadeiro problema, o Leipzig ainda está muito longe de poder aspirar a um domínio semelhante na Bundesliga, se é que alguma vez o irá ter. Pressão e compromisso defensivo são obviamente fundamentais num conjunto como o de Nagelsmann. Contudo, não há razão para que não tenha com este treinador e neste contexto de vir a ser o sucessor de Forsberg a médio/longo prazo espaço para crescer.
A Hungria prepara-se, obviamente, para fazer lema da expressão Szoboszlai e mais dez, mas se o jovem conseguir lidar com essa pressão de ser visto como o salvador de um país reminiscente da romântica Escola do Danúbio (tal como a Áustria onde jogou até aqui, aliás) sem um desgaste desumano, poderá ser um dos grandes nomes da próxima geração. A seu favor, tem deixado entender o treinador Jesse Marsch, há nele vontade de aprender. E isso pode, de facto, fazer a diferença. Um jogador a acompanhar no futuro, sem dúvida.

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