Camisolas vermelhas, calções brancos, ilustres invencíveis. É assim esta equipa, só sabe mesmo vencer. É, de resto, a única formação sénior em Portugal a contar por vitórias todos os jogos já realizados. O registo imaculado justifica um olhar venial e uma visita ao balneário deste clube tão especial.
Glorioso Sport Lisboa e... Marinha. Líder ditatorial na Zona Sul da 1ª divisão da AF Leiria, 22 golos marcados, apenas quatro sofridos, num ciclo de oito triunfos implacáveis. Os provectos 73 anos de história ansiavam por um momento destes. Um momento, ainda assim, menos relevante do que as cinco participações na II Divisão Nacional na década de 50.
Um patamar utópico nos dias que correm. «Somos a filial número 13 do Benfica, mas não nos olhem como o Benfica dos regionais de Leiria. Somos muito pequenos», clama o presidente Hélder Serra, no decorrer do jantar de Natal do emblema da Marinha Grande.
«Nós só queremos manter o clube vivo e subir à Divisão de Honra da AF Leiria. Os apoios são escassos, nada que se possa comparar ao período em que andámos nas II e III divisões nacionais», acrescenta o máximo dirigente do SL Marinha.
600 sócios, 100 espectadores por jogo no velhinho Campo da Ordem, agora renovado por um sintético moderno. Os três treinos semanais começam «nunca antes das 20 horas», o plantel é totalmente amador e o seu principal sustentáculo acaba por ser a formação do clube.
«A nossa prata da casa está a dar-nos esta alegria. Somos uma instituição formadora, temos uma equipa de qualidade, mas não estamos obcecados com a invencibilidade. Acabar a época só com vitórias? O conjunto é muito bem orientado pelo nosso treinador Vitor Duarte, mas isso é impossível», diz-nos o presidente Hélder Serra.
Antero, 32 anos, é um dos atletas mais experientes do grupo de trabalho. Passou por Fátima, Académico Viseu e Torreense, para regressar à casa onde se formou. «Estamos preparados para perder. Não sabemos o que é isso, mas no futebol temos de estar preparados para tudo. Quando acontecer, e se acontecer, não vamos dramatizar. O importante é subir».
Capítulos perfeitos, um conto de fadas no distrital de Leiria. As vitórias constantes trazem alegria, harmonia, cumplicidade e, é verdade, alguma estranheza. «Não é normal uma coisa destas. Há que aproveitar, falar do clube, mostrar quem somos. Na verdade, temos uma equipa engraçada, muito coesa defensivamente. Era bonito chegar ao fim só com vitórias.»
O segundo classificado é o Outeirense, já a sete pontos, e o terceiro é o Gaeirense. Foi no reduto desdes, aliás, que o SL Marinha viveu o momento da época. «Fomos lá defender a liderança e goleámos 0-4. Foi marcante. Percebemos que somos os mais fortes.»
Fundação Anti-Sporting
O Sport Lisboa e Marinha possui uma génese curiosa. Os seus fundadores foram dissidentes do Marinhense, insatisfeitos por ver o clube vidreiro a assumir o estatuto de filial do Sporting Clube de Portugal. Benfiquistas convictos, criaram o seu próprio emblema a 1 de Janeiro de 1939.
O primeiro símbolo foi, de resto, um decalque perfeito do criado na Luz. Era só trocar o B pelo M. Mais tarde, as agruras do tempo e as dores da competição afastaram o SL Marinha do Benfica. A 10 de Julho de 1990 nasceu o símbolo que ainda agora persiste.
A dimensão pode ser incomparável, é verdade, mas Jorge Jesus certamente não se importaria de ficar com os resultados do SL Marinha. Afinal, o Benfica até já cedeu três empates na Liga. Que inveja!
Sem comentários:
Enviar um comentário