A simplicidade das palavras encerra uma história magnífica. Digna de ser vivida em pleno e contada vezes sem conta. Aos 16 anos, Miguel Xeca despede-se do Gondomar Sport Clube e assina duas temporadas pelo poderoso Valência Club de Fútbol. O futebol português tem mais um emigrante de luxo. «Fiquei muito feliz, é uma grande oportunidade para mim», explica Miguel.
Os dirigentes portugueses olharam para outras longitudes, os espanhóis estarreceram com os 32 golos marcados por Miguel em 30 jogos. Estamos a falar de um médio. Dados deslumbrantes, portanto. Depois de quatro anos no Paços de Ferreira e mais quatro no Gondomar, Xeca enjeita a hipótese de ser apenas um fenómeno efémero. O desafio é aliciante e duro: vencer «numa das melhores equipas do mundo».
«Quero evoluir cada vez mais e tornar-me um jogador melhor. Estou integrado nos sub-19 e vou esforçar-me ao máximo. Com o tempo sei que vou integrar-me totalmente. A vontade de vestir esta camisola é enorme», refere o atleta, em intenso e compreensível deslumbre.
O contrato foi rubricado no final da passada semana. Miguel Xeca é ché de corpo inteiro. Não é um delírio adolescente, um desvio surreal ou um passeio pelo utópico. Não, é mesmo real. De Gondomar a Valência. Do elementar ao sumptuoso, do rudimentar ao fausto. Adaptação em curso.
«Inicialmente estava cá sozinho, mas agora tenho comigo a minha irmã. Ela veio tirar o mestrado de Direito e é uma companhia essencial.» Dos três portugueses do plantel principal, Miguel falou com Ricardo Costa. Se tudo correr bem, haverá tempo para edificar uma amizade também com Miguel e Cristiano Figueiredo.
Para já, o mais relevante é cativar a afeição e o respeito dos responsáveis pelo escalão junior. Não será difícil. A forte compleição física (1,86m; 78kgs), a atracção pelo golo e o empenho sem fim serão factores decisivos. Miguel Xeca apresenta-se. Humildemente. «Sou um jogador trabalhador, persistente, organizado e que gosta de ter a bola nos pés. Principais influências? Bernd Schuster e Cristiano Ronaldo.»
A similitude com o antigo internacional alemão é, de resto, evidente. O cabelo loiro, derramado sobre os ombros, une aspirante e mestre, aprendiz e ícone. A imagem ajuda a criar laços, a coincidência fecunda a curiosidade. O resto depende apenas de Miguel Xeca.
Xeca, como o avô e um primo, também eles futebolistas.
A excelência da história não impede o espreitar da estranheza. Como é que um valor destes passa despercebido aos clubes nacionais, às selecções e chega ao Valência? O tempo será um conselheiro sábio e rigoroso. Miguel Xeca terá, naturalmente, os elementos da FPF ainda mais atentos.
«Um dos meus maiores objectivos no futebol é poder representar o nosso grande país. Vamos ver o que acontece», reage o jogador, confrontado com essa possibilidade. Miguel Xeca, um percurso raro, uma metamorfose em vista.
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